Poesia Evangélica |
A Heroína de Craonópolis, poema de Mário Barreto França Posted: 20 Feb 2018 01:30 AM PST Noêmia Campelo A Heroína de Craonópolis Mário Barreto França (Aos pioneiros das Missões Nacionais e à poetisa Stela Câmara Dubois, em cuja biografia de NoemeCampêlo foram inspirados estes versos.) I Na taba dos Craôs. Um grande vozerio Faz a tribo acordar no altivo desafio Contra o branco invasor, que tanto os provocava E em suas possessões, sem ordem, acampava... Por que essa gente má não os deixa tranquilos E vive, sem motivo algum, a persegui-los? Pois que seja maldita a imposição cristã Que tenta os afastar do grande deus Tupã!... II Sentindo o impulso de vingar as dores Que suportaram seus antepassados Dos brancos maus e vis perseguidores, O chefe dos Craôs, em altos brados, Apertando nas mãos o seu tacape, Dirige-se aos guerreiros inflamados: – "Que nenhum branco dessa vez escape À justiça das nossas próprias mãos! Que a pedra da vingança, inda hoje, tape As covas rasas desses maus cristãos!" – III Mas eis que a voz dos espias Alegres notícias nos traz: "Eles falam nossa língua, Esses brancos são de paz!" E o velho cacique espelha No rosto a felicidade E diz: – "Eu irei falar-lhes Na voz da fraternidade." Seguem, com ele, os guerreiros, Com ele, também, irá A sua filha querida, Sua esbelta Penuá. Na clareira ensolarada, Sobre um tronco de palmeira, Sentada estava uma jovem De castanha cabeleira... Tinha nas mãos uma Bíblia E nos céus fitava o olhar, Na mais sincera das preces: – O sertão cristianizar. Essa jovem dedicada Era Noeme Campêlo Que, pelo Brasil caboclo, Trabalhava com desvelo. E, ao contemplar a indiazinha Com seu bonito cocar, Na simpatia dos santos Pôs-se com ela a falar: – "Filha de bravos guerreiros Por amor de vossa gente Eu vos trago, de bem longe, Este livro de presente. Ó aceitai Jesus Cristo Que por vós na cruz morreu..." Mas... da mata veio um silvo, E a índia pra lá correu. IV Quando Noeme ouviu Zacarias Campêlo Certo dia fazer um comovente apelo Em favor do sertão, dos índios brasileiros, Escravizados ainda aos instintos guerreiros E às vãs superstições que os tornavam ariscos, E ouvindo-o descrever os perigos e os riscos, Por que passa, na selva, o intrépido cristão Que lhes queira levar a civilização, Ela sentiu, nessa hora, a chamada divina À causa das missões... Era inda tão menina! Porém, na mais sincera e grata adoração, A Deus ofereceu seu jovem coração... E, naquele momento, as suas almas puras Uniram-se no amor de duas criaturas, Cujo único desejo e vontade febril Era pregar Jesus aos índios do Brasil. Em casa, ao confessar ao pai, o seu desejo, Sua resolução, seu decidido almejo De levar o evangelho aos índios, ele disse: – "Mas que temeridade, ó filha, que tolice! Nas cidades também se prega, ao moço e ao velho, As doutrinas de Cristo, e a graça do evangelho. Fala, então, ao teu noivo e mostra-lhe as vantagens De não ir ao sertão, nem pregar aos selvagens." Ela fala, porém: – "Se ele não mais quisesse Ir aos índios, então, todo o meu interesse Por ele findaria... E assegura-lhe, em pranto: – "Sentirei vossa falta e da mamãe, no entanto, Eu seria infeliz, se rejeitasse, ó pai, A chamada de Deus!" – E ele lhe disse: – "Vai! Se Deus te consagrou a tão nobre missão, Bendita seja, enfim, tua resolução!" – V Bem ao sul de Carolina, Atrás de verde colina, Surge a aldeia dos Craôs, Circundada de palmeiras, De copadas mangabeiras, Entre o abraço dos cipós... Aquela vida selvagem Em tão longínqua paragem Vai, agora, tumultuar; É que Noeme Campêlo, No mais humano desvelo, O evangelho vai pregar. A indolência, os maus costumes, Lutas, desleixos, queixumes E a falta de educação Iriam ser condenados, Como outros tantos pecados Contra o Rei da Criação. E a missão evangelista Vai, de conquista em conquista, Restaurando o índio incivil À fé do cristianismo, À consciência do civismo, No coração do Brasil. E o selvagem, que era triste, Já sabe que Deus existe, Que existe a Pátria também; Já lê na sua cartilha Tudo o que sabe e o que tem... Mas esta felicidade, Por uma fatalidade, Vai, agora, terminar, Porque Noeme, depressa, A Carolina regressa Para nunca mais voltar... VI Longe da esposa amada e do lindo filhinho, Zacarias Campêlo enfrentava, sozinho, A inclemência do tempo e a quase indiferença Com que a tribo escutava a explicação da Crença, Das lições da cartilha e de como empregar A foice e a enxada, a fim de a terra cultivar. Nisto, chega um recado infausto e doloroso: – "Noeme passa mal!" O coração do esposo Palpita de apreensões... Mas era necessário Iniciar, sem demora, o longo itinerário De volta a Carolina... A condução faltava... Iria mesmo a pé... O corpo fraquejava... Sem dormir, sem comer, apenas se nutria Das preces que ao Senhor, aflito, dirigia: – "Dá-me forças, ó Deus, pra vencer a distância; E livra-me, Jesus, desta mágoa, desta ânsia! ... Que o peito me asfixia! E concede, Senhor, Que eu possa suportar esta tão grande dor! ... Se é de tua vontade, a saúde e a energia Restaura-lhe, Senhor, para a minha alegria!"... Procurando vencer a fadiga e o cansaço, Ao romper da manhã, ele, apressando o passo, Descortinou ao longe a cidade... Doirando O casario, o sol vinha se levantando No festivo esplendor da sua luz radiosa, Saudando, em tudo, a vida alegre e majestosa... Na su'alma, porém, chorava o sofrimento Na dúvida cruel de um mau pressentimento... Tinha que percorrer ainda longa estrada; Mas a imagem da esposa, ingênua e delicada, Sorrindo na su'alma, as forças lhe animava. De tarde, chega em casa... Um bom grupo rodeava O leito de Noeme... Ajoelha-se, chorando... Toma-lhe as frias mãos, beija-as, de quando em quando, Dizendo-lhe: – "Querida, eu tenho orado tanto, Que Deus há de estancar a fonte do meu pranto! Em breve estarás boa e viverás contente Dentro do nosso lar, junto da nossa gente... E os céus nos sorrirão! ..." – Ela, porém, responde: – "Zacarias, eu sei que o teu amor esconde Minha sorte fatal! Contudo, eu sou feliz Porque Deus escutou as preces que lhe fiz E te trouxe a meu lado! Eu sei que vou morrer, Mas me sinto feliz... cumpri o meu dever! ... Eu vejo o céu se abrir numa festa de luz Para me receber, nos braços de Jesus! Não chores! Mas sê forte e continua assim, Os índios conquistando, em memória de mim... Vós todos que me ouvis – menino, moço ou velho – Aceitai, sem demora, a graça do evangelho! Cantai, cantai comigo, este hino inspirador De quem confia em Deus, pelo seu grande amor: "Eu avisto uma terra feliz, Onde irei para sempre morar Há mansões nesse lindo país Que Jesus foi ao céu preparar. Vou morar, vou morar Nessa terra celeste porvir!" E diz: – "Por que chorar as cousas desta terra, Quando o céu é tão bom e a salvação encerra?" – E num último esforço ao se extinguir a vida, Falou: – "Recebe, ó Pai, minha alma agradecida! ...". VII Morta! É morta a primeira e grande missionária, Resoluta, benquista, altiva, extraordinária, Que, deixando o conforto e as luzes da cidade E as várias diversões próprias da mocidade, Resolveu ir levar as celestes mensagens, No coração da Pátria, a todos os selvagens, Pondo acima de tudo o sonho juvenil De ver cristianizado o sertão do Brasil! E foi; e se fez mãe, e amiga, e conselheira: – A primeira mulher que, pela vez primeira, Catequizando a Cristo os índios do sertão, Cumpriu a mais gloriosa e esplêndida missão. Morta! É morta a primeira e grande missionária! Porém a sua vida excelsa, extraordinária, Para sempre ficou brilhando como a luz Do evangelho do Amor, da mensagem da Cruz! Do livro Antologia de Poesia Missionária - Volume 3. CLIQUE AQUI para baixar. |
You are subscribed to email updates from Poesia Evangélica. To stop receiving these emails, you may unsubscribe now. | Email delivery powered by Google |
Google, 1600 Amphitheatre Parkway, Mountain View, CA 94043, United States |
Nenhum comentário:
Postar um comentário