CÂNTICO À IGREJA REFORMADA
(Lendo Guerra Junqueiro no seu poema "Aos Simples", de "A Velhice do Padre Eterno...")
Seguidores de Cristo – almas santificadas,
"que calcais, sob os pés, do pecado os dragões",
Vós que inda conservais as palavras sagradas
Do Mestre, que de amor são sempre perfumadas,
Trescalando perfume em vossos corações;
Almas feitas de luz e para a luz surgidas,
Da luz que vem de Deus, ó, almas redimidas,
Que sois, aqui, na terra, a Igreja do Senhor,
A verdadeira Igreja, a pura, imaculada
"Esposa do Cordeiro" – o mais sublime amor;
Almas em que refulge a lâmpada sagrada,
A candidez da fé e o puro amor cristão,
Como na primavera as flores vicejantes,
Como na noite escura os astros n'amplidão;
Almas cheias de vida e luzes coruscantes,
Relicários de fé, de coragem e altruísmo,
De humildade, perdão e vera penitência,
Que refletis a luz do puro Cristianismo,
Que rebrilhais ao sol formoso da consciência;
Almas que resistis, com fé, às tentações
Do mundo enganador, iníquo e condenado,
Erguendo para os céus as santas orações,
Vencendo, em toda a linha, o dragão do pecado; -
Recebei, de bom grado o meu humilde canto,
Em que traduz minh'alma a eterna sinfonia
De vosso amor sincero, e forte, e puro, e santo,
Como a glória do sol em pleno meio-dia!
Sois nume tutelar da divinal vontade
Que sempre procurais fazer em boa mente;
E tudo quanto em vós existe de verdade –
- desde a menor virtude até à santidade –
Vem de Deus e vos leva a Deus eternamente!
Recebei este canto, ó! Igreja Reformada,
Que vai com minha prece a Deus, Nosso Senhor,
Para pedir que seja a vossa fé sagrada
Uma lâmpada sempre acesa, iluminada –
Que ilumine o caminho a todo pecador!
De tempos que vão longe, a vossa linda infância,
Infância que nos trouxe a herança divinal,
A nós nos veio a vossa esplêndida fragrância,
Como na primavera tudo em abundância,
Como na natureza uma aurora boreal!
Bendita sejais vós, ó, santa Igreja amada,
Cumpri vossa missão sublime e alcandorada
Que Deus vos outorgou, e aos vossos tanto ufana,
Pedindo a Deus que mande o auxílio divinal,
Que possa combater, sem tréguas, todo o mal –
E muito mais ainda – a podridão mundana!
Orai por todos nós, orai, ó, almas santas,
Pois vossas orações são de virtudes tantas,
Que Deus vos ouvirá, e muito há de fazer
Em prol da humanidade enferma e sofredora,
Que é toda a humanidade abjeta e pecadora,
Que vive a preferir do pecado o prazer!
O vosso amor sincero, e forte e puro e santo –
Em prol da raça humana e a Deus o consagrai,
Pedindo-lhe nos dê o seu divino manto,
E enxugue de noss'alma o grande e amargo pranto,
E a salvação nos dê, com seu amor de Pai!
Do livro Quando a Musa Canta!... (São Paulo: Casa Lyra Editora, 1947)