Poesia Evangélica |
Dois poemas de Rui Miguel Duarte Posted: 29 Sep 2014 04:42 PM PDT A FIGUEIRA "Então Jesus exclamou: «Nunca mais ninguém coma do teu fruto!»" Evangelho segundo Marcos 11:14 Darás fruto algum dia, ó figueira gotas de água do fundo da tua raiz alguma vez nascerá em ti o Verão haverá um rasto de amor para o meu ardor? em ti mais não escorre do que a secura que o livor pôs na tua mudez tens a morte por rebento não há sol perante ti, árvore de prata, mas um apetite de uma palavra uma só que salve a madrugada da fome da terra não há nada pronto mas uma vontade de mãos cheias de sabores vivos arrancados à conjura do vento e das sombras porque persiste em ti o Inverno? PORCO NOJENTO "Foi pedir trabalho a um homem da região que o mandou para os seus campos guardar porcos." Evangelho segundo Lucas 15:15 é nojento esse porco até à milésima casa e à milésima geração de dias faltam-lhe as subtilezas do alfabeto declinado às cordas do amor, o velho abraço à sombra escorrendo seiva fosforescente da barba sobram-lhe o nojo o cuspo o beijo viscoso à procura de uma palpitação assim nasce e cresce o porco o nojo o cuspo a que se reduz o corpo que a alma foi perdida lá atrás num descaminho de má vida disseram-lhe que podia beber o pus pois as bolotas são dos porcos nojentos e o pão é nosso de cada dia dos ratos a alma foi perdida lá atrás: pergunta onde? lá atrás há porcos que regressam ao velho abraço à sombra que escorre o sol |
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